escultura

A ARTISTA

mariana Canepa
Mariana Canepa em seu atelier
MARIANA CANEPA
O início: o contato com a terra

A ceramista Mariana Canepa nasceu no Chile em 1952 e passou sua infância no campo, nos arredores de Santiago. Como veremos a seguir, o contato direto com a natureza, com a terra e com a cultura local influenciaram de forma determinante as escolhas  artísticas de Mariana. Segundo a artista, em seu país o artesanato em cerâmica é cultivado como parte importante do Folclore local. Além disso, seu avô paterno de origem italiana, trabalhava com a terra cultivando vinhedos e era um excelente artesão. Ao mesmo tempo que vivia em contato com a terra vivendo com a família no campo, a ceramista freqüentava a escola da cidade de Santiago e estabelecia outros contatos: “Eram formas mais eruditas de conhecimento, com outros familiares que eram ligados ao teatro, e com os quais tive acesso a outro tipo de formação: livros e músicas.”

A Formação Artística:
O atelier de Silvia Goyanna e o Parque Lage

Em 1974 a artista vem para o Brasil, mais precisamente no Rio de Janeiro. O contato efetivo de Mariana com as Artes Plásticas só ocorrerá um pouco mais tarde quando cursava sociologia na PUC. Um pouco indecisa em relação ao curso e a futura profissão, Mariana muda a rota: inicia seu percurso artístico através da cerâmica: “Comecei a freqüentar um atelier chamado Barro-oco no Rio, onde se faziam peças artesanais e escultura de figura humana em barro.” A partir de então a artista busca outros locais de formação que pudessem lhe apresentar outras formas de criação e produção. Foi assim, nesta busca que artista chegou ao Atelier de Sylvia Goyanna(1). Esta artista e Arquiteta de formação tinha estudado Cerâmica em Londres e naquela época estava abrindo seu atelier para dar aulas no Rio:
“No atelier de Sylvia, fiquei por uns três anos, formamos um grupo que começou a caminhar junto, e rapidamente procurei começar a montar um pequeno atelier em casa para me aprofundar, nas pesquisas. Foi uma época formativa, tanto no lado técnico, quanto no lado artístico. A postura de Sylvia foi fundamental no sentido de começarmos a discutir como a cerâmica se colocava dentro do mundo da Arte, e a sua colocação como arte menor, o que nos levou a formar a associação de ceramistas, que visava  fomentar  a Arte Cerâmica  através de uma atuação formativa”.

Entre os anos 80 e 90, Mariana já produzia em um atelier que dividia com Teka Portela, procurando sempre manter uma postura atuante tanto nestas associações quanto nos salões de Cerâmica e Simpósios ocorridos nesta época.  Na associação de ceramistas do Rio de Janeiro faziam parte, além de Teka Portela e Silvia Goyanna, Clara Fonseca, Paulo Vergueiro e Graziela Pascual.

Nesta época, no Rio de Janeiro, a Escola de Artes Visuais do Parque Lage (2) desempenhava um papel na formação artística da cidade e Mariana passou a participar do grupo da ceramista Celeida Tostes: “Não fiquei lá muito tempo, mas a Celeida passou a acompanhar o meu trabalho. Foi um enfoque completamente diverso da cerâmica de atelier com a qual vinha tendo contato ligada a Cerâmica Potery dos discípulos de Bernard Leach. A experiência com a Celeida foi relacionada às tradições de nossa terra, do barro cru e do cozido, das esculturas monumentais, da arquitetura da terra”.

Segundo a artista, podemos observar em sua formação duas correntes distintas, mas que se refletem igualmente em sua forma de representação artística. No início, a cerâmica de atelier, fundamentada nas tradições e técnicas européias e de influência oriental. E mais tarde, sua passagem pelo Parque Lage e o contato com Celeida Tostes (3) agregam a sua produção aspectos da cerâmica da terra, ancestral, arcaica, antropológica. “Entre estas duas vertentes surge meu trabalho pessoal, diferenciado e acredito que transformador no sentido das tradições herdadas”.

 
Exposições e Prêmios

Ampliando ainda mais sua formação e visando enriquecer sua pesquisa de materiais e técnicas, Mariana participa de inúmeros workshops ocorridos nesta época e freqüenta os cursos de formação artística organizados pelo MAM (Museu de Arte Moderna). Em São Paulo, visita diversos ateliês e conhece os ceramistas mais atuantes da cidade como  Célia Cimbalista e Norma Grinberg. Toda essa busca por conhecimento refletiu positivamente em sua produção artística: “O importante desta fase foi a obra que eu produzi para a exposição ‘Releitura’ do Museu Histórico Nacional, no Rio de Janeiro. Com essa obra ‘Manto’ eu procurava dar a mobilidade do tecido em um meio rígido como é a cerâmica. Ela causou grande impacto, tanto pela proposta quanto pela execução da obra”.

Além desse importante trabalho, a artista foi premiada no X Salão de Cerâmica do Rio Grande do Sul: “Eu ganhei como prêmio neste salão a minha primeira exposição individual em 1993”. Um outro trabalho de grande destaque na produção artística de Mariana foi a obra apresentada na Exposição “A Cerâmica na Arte Contemporânea Brasileira”. A artista apresenta nesta ocasião uma paisagem fragmentada que é suportada por uma estrutura de ferro: “A utilização de um outro material para solucionar os problemas de suporte da cerâmica de forma harmônica, deste trabalho foi o que mais chamou a atenção”.

Em 2000, a exposição “Imagens do Silencio” realizada no Espaço Cultural dos Correios marca de forma significativa a trajetória artística de Mariana, tanto do ponto de vista da ocupação do espaço quanto na temática recorrente que gira em torno das formas encontradas na natureza, muito ligada a terra e a vegetação. Na verdade essas formas foram buscadas em um universo bem específico da história de vida da artista, vejamos as palavras do professor João Wesley de Souza (4) Sobre esse aspecto da obra de Mariana:
“Suas configurações elaboradas no silencioso e disciplinado espaço do atelier, sugerem a um olhar mais detido, os meandros constitutivos da estrutura do longínquo solo dos Andes chilenos, seu lugar de origem e substância processual.”
Essas “memórias autobiográficas” inspiram e sugerem as formas artísticas criadas, mas elas surgem aliadas a duas características marcantes do trabalho de Mariana: uma ordem racional e estética que  conduz e organiza essas memórias intuitivas, além de um domínio técnico aprimorado. Toda essa maturidade alcançada e a consciência de um percurso poético criado oferecem a segurança necessária para que a artista exponha seus trabalhos de forma mais freqüente: “A partir deste momento começo a ter uma participação maior em exposições, em espaços culturais e galerias e com grupos diversificados de artistas, saindo do âmbito exclusivo da cerâmica. Meus referenciais se ampliam e uma maior liberdade acontece”.

Em 2004 a artista apresenta em São Paulo e no Chile a exposição “Quilhas do Tempo”. As obras expostas apresentam uma trama de filamentos no interior de suas superfícies. Ao primeiro olhar a obra se mostra apenas como textura desta superfície, mas a movimentação do observador em torno da obra faz que ele descubra o que há por de trás, os esquemas escondidos e as formas camufladas.

 
O PROCESSO DE CRIAÇÃO

O processo de criação de suas peças não segue um ritual pré-determinado, mas alguns procedimentos são freqüentes em seu trabalho de criação: “Eu desenho antes de fazer minhas peças, olho para o próprio trabalho e para os meus desenhos, livros, fotos e imagens variadas”. Eles podem ajudar no encontro de soluções para questões formais que fazem parte do trabalho, mas no geral é o próprio trabalho que apresenta as questões e assim vai evoluindo.

mariana Canepa

Na prática, gosta de trabalhar sozinha, somente em casos de necessidade é que a artista contrata um ajudante para a parte pesada e mecânica do processo de criação. Ainda sobre esse momento importante de seu ofício Mariana comenta: “A criação pode ser provocada de diversas formas e também é uma questão de época; tem épocas de viajar, ver coisas, absorver, olhar, sentir e outras de executar, são ciclos, que se sucedem”.
 
A professora e ceramista Maria Regina Rodrigues (5) em recente pesquisa desenvolvida estuda o processo de criação na cerâmica: “De modo geral, importa-nos, especificamente, verificar como cada obra apresentada possui parte de sua memória registrada nos documentos que acompanham seu processo: anotações, esboços, rascunhos e projetos. Determinadas obras estudadas têm relação de parentesco com outras do mesmo artista e podem ser consideradas como documentos de processo daquelas que a sucedem.” (RODRIGUES, 2004) A autora observa em sua pesquisa quatro atitudes durante a elaboração e a criação artística:

  1. o barro: estudo e obra, quando o próprio manuseio da matéria provoca o início do processo de criação.
  2. o resíduo como possibilidade de obra , quando os restos e vestígios de trabalhos anteriores sugerem e apontam a possibilidade do surgimento de uma nova produção.
  3. o desenho como modo de construção do pensamento  quando projetos e croquis irão delinear e conduzir a produção artística.
  4. diálogo com outros: sujeitos e linguagens quando o artista cria a partir do contato e da troca de idéias com outras formas de expressão.

Nesta pesquisa Maria Regina Rodrigues destaca um aspecto do percurso da criação do trabalho de Mariana Canepa para exemplificar o processo de criação que surge do contato e do manuseio da matéria: “Nas obras mais recentes de Canepa (2000), podemos notar que a artista trabalhou grandes esculturas, utilizando finas camadas de argilas de diferentes colorações, fruto de uma pesquisa realizada para trabalhos menores” (RODRIGUES, 2004).

Vejamos as palavras de Mariana Canepa sobre assunto: “Os trabalhos pequenos me servem como laboratório para começar a planejar as peças maiores. Foi precisamente fazendo peças de bijuteria que fui investigando as mesclas de argila e as possibilidades técnicas de cada pasta, traço distintivo do meu trabalho hoje em dia”.   

mariana CanepaOu seja, o trabalho com as camadas, o destaque entre os diferentes pigmentos são atualmente uma característica visual marcante no trabalho artístico de Mariana Canepa e surgiu na sua pesquisa de massas cerâmicas para a produção de bijuterias.

É importante destacar que com relação ao processo de criação de Mariana Canepa os procedimentos e ações não são limitados a este exemplo citado acima, ela percorre todas as variadas atitudes apontadas pela pesquisa da professora Maria Regina Rodrigues. Esta simultaneidade de ações que preparam e provocam o ato criativo é prevista pela própria autora:  
“Esses quatro movimentos, vale ressaltar, são muitas vezes simultâneos, pois, considerando o processo de criação como fenômeno comunicativo e como tal, possuidor de uma interface cultural, podemos pensar no contraste da interação do ceramista com o tempo e o espaço. Isso parece ser suficiente para pensarmos que seu processo de criação é constantemente contaminado por ruídos da criação de outros. Também cabe ver que o desenvolvimento de uma pessoa jamais se dá de modo linear. O processo é dinâmica e ocorre em múltiplos níveis, que interagem e se influenciam reciprocamente”. (RODRIGUES, 2004)

Essa idéia de interação e dinamismo explica algumas afirmações da artista com relação ao seu processo de criação vistos até o momento que em outras palavras pode ser resumido assim: o olhar que se volta para o seu trabalho e o dos outros como forma de inspiração, o desenho como procedimento para soluções formais, o manuseio da matéria como provocador de novas idéias e os diferentes ciclos que envolvem o processo criativo, diferentes tempos que cada um a seu modo contribuem para a construção da obra: “tempo de olhar, de absorver, de sentir e de executar”, segundo palavras da própria artista.

mariana Canepa

Acrescidos a estes aspectos Mariana ainda destaca a importância do ambiente do atelier: “Em geral, gosto de estar rodeada de as minhas obras, ou de partes delas, o que cria um ambiente propicio, e também de ter outros materiais os mais variados, de espaço amplo, muita luz, e meus livros, que são fonte de pesquisa e inspiração”.

Vimos então, quais são as atitudes e procedimentos da artista em seu processo de criação. Falaremos a seguir sobre a relação de Mariana Canepa com a linguagem artística escolhida: a cerâmica.

Algumas palavras sobre a artista

Visando uma aproximação maior com a obra da artista Mariana Canepa, conversamos com o Prof. João Wesley de Souza da Universidade Federal do Espírito Santo que acompanha e escreve sobre a produção artística da ceramista chilena nos últimos tempos.
 
A formação
“Mariana é um nome importante hoje na cerâmica no Brasil porque ela vai entrar no sistema de arte triangulando com nomes que são fundamentais: ela foi aluna da Celeida Tostes que uma referência na cerâmica, ela tem contato com a Sylvia Goyanna que foi a primeira ceramista brasileira que saiu do país e foi se especializar fora. A Sylvia tem esse contato com o mundo da cerâmica inglesa e com o conceito de cerâmica a partir da cultura inglesa. Além de outros nomes da associação de ceramistas do Rio de Janeiro. Na minha opinião a Mariana apresenta um trabalho maduro, que demonstra já ter passado por todos esses enfrentamentos. Eu chamo de enfrentamento porque conhecer a Celeida e lidar com ela é uma espécie de contato que vai sempre desestabilizar o artista, colocar suas bases em questão. E passar pela Sylvia é outro tipo de enfrentamento, enquanto a Celeida Tostes é mais artística, tem uma veia  mais emotiva, numa via de expressão mais livre. A Sylvia Goyanna é totalmente cerebral, ela conversa a partir de conceitos e noções precisas”.

A referência à origem
“O que eu acho mais interessante na Mariana e na exposição dela aqui em Vitória é o que eu chamo de deslocamento. É pulsação de origem quando o sujeito é deslocado cria uma pulsão muito violenta no imaginário, a obra de Mariana Canepa tem sempre essa referência a origem, porque é uma pessoa que teve seu choque estético, seu encontro com o mundo lá no Chile e é deslocada para a cultura carioca dos anos 70. Então essas imagens, essa técnica que ela usa na cerâmica, tudo remete um pouco, de um modo subjetivo a essa imagem de origem, são reminiscências daquele primeiro encontro com o mundo que foi no Chile”.

A maturidade: a busca da essência
“Eu observo também que o trabalho da Mariana vem passando por uma certa folga em relação a esse aspecto da origem. Que passa por várias questões, é uma relação com a natureza, mas é uma natureza específica, não é qualquer lugar, é o sul do Chile, o problema das placas tectônicas, dos terremotos daquele país faz com que as diferentes camadas que existem no solo fiquem visíveis. Eu acho que isso de certo modo vai recorrer dentro do aspecto formal do trabalho dela, ela  vai trabalhar com camadas de cores diferentes. Mas, o último trabalho dela, Quilhas do tempo demonstra que ela está chegando em um ponto de extrema maturidade, ou seja, um lugar onde você vai filtrando os excessos, extraindo do trabalho tudo que ele tem de supérfluo e só vai restando uma estrutura cósmica essencial”.

A circulação da obra
“Eu acho que esse ponto de maturidade determina a circulação do artista também. O trabalho dela além de ter ganhado o território nacional, ou seja, expondo e circulando dentro do eixo Rio-São Paulo, sempre com uma receptividade muito boa de público, vendendo muito em suas exposições, chega agora em outros Estados, essa exposição dela aqui vai ser boa para abrir essa link de contato. Ela já começa também a estabelecer contatos de divulgação e venda dentro da Europa a partir de sua participação na Feira do Arco na Espanha. Enfim, Mariana Canepa é uma artista madura que tem passado e tem paternidade porque realmente aprendeu em seu período de formação com nomes importantes da cerâmica brasileira”.

 

AS REFERÊNCIAS

Muitos são os artistas que Mariana Canepa admira. Dentre uma longa lista deles estão esses quatro que, por vezes, não se relacionam diretamente aos trabalhos integrantes dessa mostra, mas que sem dúvida não deixam de povoar o imaginário da artista. 

Antoni Tàpies (1923)
Antoni Tàpies nasceu na cidade de Barcelona, na Espanha, em 1923.  Foi um pintor autodidata, fez sua graduação em Direito. Aos 18 anos, passou dois anos de cama, em razão de uma lesão pulmonar. Foi através de seu médico, um amigo íntimo de Picasso, que conheceu o artista, em Paris, tempos depois. Conviveu também com artistas surrealistas. Publicou inúmeros textos sobre a criação artística e o papel social da arte.

O que mais se destaca na obra de Tàpies é a importância que o artista dá à matéria. Em seus quadros predominam as texturas rugosas e pastosas. Ele trabalha integrando todos os elementos possíveis: areia, pedra e palha. As cores da terra estão em quase todos os seus quadros, os tons preferidos são os marrons, ocres, terra e o preto. A abstração é absoluta, sendo permitida apenas a introdução de certos símbolos, embora com um significado muito subjetivo. Entre os numerosos signos utilizados na obra de Antoni Tàpies, a cruz é o mais recorrente e fundamental para a compreensão do conjunto de seus trabalhos. O símbolo da cruz dá ao artista uma grande variedade de significados: a cruz, e a letra x, como coordenada espacial, como imagem do desconhecido, como símbolo do mistério, para marcar um território ou como marca para sacralizar lugares, objetos, pessoas ou partes do corpo. Além disso seus trabalhos relacionam-se com os grafites populares urbanos, se acordo com alguns críticos de arte suas telas podem ser comparadas a muros grafitados.
Sua pintura é gestual, espontânea e, ao mesmo tempo, reflexiva. De acordo com o crítico de arte Fábio Magalhães suas telas são fortes, poderosas, inclusive aquelas de pequeno formato. Sua expressão é contundente, dramática, cheia de vitalidade. Raramente na história da arte nos defrontamos com artistas que tenham desenvolvido uma obra e um pensamento tão complexos.
A trajetória artística de Antoni Tàpies sempre foi marcada por sua profunda reflexão sobre o papel social da arte. Mesmo no período da ditadura espanhola ele não submeteu sua produção as ideologias partidárias. Segundo ele a arte é um território para a liberdade. Sua pintura é expressão de liberdade, mesmo em épocas de repressão.

mariana Canepa
Sud, 1988. Pintura sobre madeira, 170 x 195cm
Sobre seu processo de criação Tàpies dizia que as melhores filosofias, as melhores intenções e as crenças mais sublimes não bastam para realizar obras de arte. Cada vez que entramos em nosso ateliê, nos defrontamos com uma tela branca que põe novamente diante de nós todos os problemas que pensávamos ter resolvido, e nos deixa sozinhos para encontrar uma solução.
Este artista catalão também se aventurou na Arte Povera e no conceitualismo, retirando objetos de seus contextos. Suas esculturas se mantêm dentro da linha de suas pinturas. Suas obras mais importantes estão na fundação que leva seu nome, na cidade de Barcelona.

Eduardo Chillida (1924-2002)

Eduardo Chillida nasceu na cidade de São Sebastião, na Espanha, em 1924. Foi jogador de futebol, mas uma contusão o retirou dessa profissão. Iniciou seus estudos em Arquitetura, mas logo decidiu dedicar-se a escultura, ingressando na Academia de Belas Artes de São Fernando.
Em 1948, buscando um ambiente criativo mais propicio do que vivia na Espanha franquista, se mudou para París. Conheceu as obras de Picasso, Julio González e Brancusi, sentiu uma especial fascinação pela escultura arcaica grega do Museu Louvre. Em sua primeira etapa realizou esculturas em gesso e terracota influenciadas pela tradição figurativa. Mas a figuração não satisfez Chillida.

mariana Canepa
Berlim, 2000. Escultura de metal instalada
na sede da Chancelaria Federal em Berlim, Alemanha.


Depois dessa experiência inicial decidiu sair de Paris e voltar a sua terra natal. Em 1951 começou a trabalhar no atelier de Manuel Illarmendi  que lhe ensinou alguns dos seculares segredos da escultura. Nesse mesmo ano Chillida realizou sua primeira escultura abstrata, utilizando ferro, chamada “Ilarik”. Após sua primeira criação abstrata Chillida seguiu sua trajetória artística criando esculturas que tiveram reconhecimento internacional. Em 1971 realizou esculturas em concreto elaboradas para ocuparem espaços públicos.

Seguindo a tendência de criar esculturas para permanecerem a céu aberto, em 1977 o artista realizou série de esculturas “El peine del vento”. Essas eram fixadas em pedras em frente ao mar.
 

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El peine del vento,  1977, Praia de Ondarreta, San Sebastian, Espanha

Em setembro de 2000, Chillida realizou um de seus grandes sucessos. Na cidade de Hernani, abriu as portas do museu chamado Chillida-Leku (Casa de Chillida). Esse espaço é rodeado por campos e bosques com a idéia de criar um ambiente que contribuísse para a divulgação da obra do artista dando uma mostra representativa da trajetória artística do artista.
 

Sylvia Goyanna (1946)
Sylvia Goyanna nasceu em 1946, no Rio de Janeiro. Formou-se em Arquitetura em 1969, mas em 1975 passou a dedicar-se inteiramente a arte, dando início a um trabalho em cerâmica.
Fez cursos na Alemanha, sentindo-se atraída pela disciplina do torno e a criação de uma cerâmica feita para o uso. Apesar de inicialmente ter como referência as idéias de Bernard Leach, e sua visão utilitária da cerâmica, logo entrou em contato com ceramistas que davam ênfase aos aspectos estéticos da cerâmica e não aos utilitários.
Ao retornar ao Brasil em 1980, desenvolveu uma pesquisa sobre a cerâmica popular brasileira, surgindo daí uma produção artística que discutia a relação entre a tradição e a contemporaneidade.  Ao recriar formas do cotidiano como moringas e pratos, pertencentes a tradição estética da cerâmica, buscou uma ligação com essas referências históricas, onde o que importava era a sua dimensão estética, a sua capacidade de expressar valores culturais. Sobre esta fase a artista comenta: “O recipiente não mais interessava para ser usado, mas como um arquétipo a ser subvertido através de cortes e deslocamentos. Moringas e pratos carregam intencionalmente parte de uma tradição que não se pretende continuar, mas sim romper, sendo usada como suporte para um questionamento estético”.
Em 1985, teve a oportunidade de ver a produção artística e entrar em contato com as discussões e questões colocadas no meio da cerâmica contemporânea norte-americana. Data desta época o interesse de Sylvia pela escultura em argila.
Retornando ao Brasil continuou trabalhando no formato do recipiente, mas agora interessada no seu potencial escultórico. Segundo ela “As peças produzidas então, apesar de sua pequena escala e de possuírem espaço interno, se referem mais a volumes arquitetônicos do que a recipientes para conter líquidos ou sólidos”. Foi nessa fase que Sylvia começou introduzir outros materiais como a prata e o cobre em conjunção com a argila, propondo “uma interação dialética de matérias tão diversas – o metal rígido e o barro plástico – num meio tão carregado de tradição como é a cerâmica”

mariana Canepa
Série Díspares, 2001., cerâmica raku e vidro, 24 x 55 x 24 cm

Entre muitas exposições coletivas e individuais, no Brasil e no exterior, Sylvia Goyanna, em 2001 planejou a exposição “Pares e Díspares”, realizada no Museu Nacional de Belas Artes, no Rio de Janeiro. Nessa mostra os objetos cerâmicos vão além da questão utilitária. O vaso, um dos principais recipientes de uso, passa a ser visto dentro de uma grande contradição: a forma útil e a forma não útil. “Em Pares e Díspares acredito ir além da questão do uso e de meu trabalho anterior, quando falava de moringas e pratos e onde a questão central era a negação do uso. Agora eu trabalho com a forma do vaso enquanto herança de todas as culturas, arquétipo no inconsciente coletivo que tem ligações simbólicas para além do uso”. 
 
Nessa exposição os vasos aparecem também dentro de cubos. Segundo a artista, o cubo que antes servia de base para seus trabalhos, nessa mostra passa a ser integrante do trabalho. “Em ‘Pares e Díspares’ o cubo suporte, ao se alternar com o vaso no lugar da obra de arte, entre aspas, reivindica seu lugar na linguagem formal da cerâmica. São enormes as implicações em relação à nossa herança do construtivismo, do trabalho com o cubo, muito usado, muito visto. Joguei com essas formas, até porque o ceramista contemporâneo está cercado de influências. Tudo faz parte. Aproprio-me dessas imagens do cubo para trazê-las para a cerâmica. Há o aspecto do cubo suporte e da simbologia do cubo dentro disso”.
 
Além de seu trabalho artístico Sylvia possui um atelier onde organiza cursos e Workshops sobre o Raku. O atelier funciona desde 1996, no Rio de Janeiro. Sylvia também utiliza a técnica de queima do Raku em suas obras. “No meu trabalho utilizo o Raku  em determinadas obras, explorando o que a técnica pode me oferecer em termos de rapidez e espontaneidade de resultados. As possibilidades oferecidas pela queima são qualidades e valores que aprecio muito na cerâmica. É no Raku que essas qualidades são potencializadas ao máximo. Embora o imponderável se faça mais presente, a pesquisa sobre os vidrados se torna mais ágil e os resultados positivos mais gratificantes, pois o fator de risco é maior!”

Celeida Tostes (1929-1995)
Celeida Moraes Tostes nasceu em 1929, no Rio de Janeiro. Formou-se na Escola Nacional de Belas Artes, no Rio de Janeiro, em 1957. No ano seguinte ganhou uma bolsa de estudos do governo norte-americano, onde ampliou seus conhecimentos em técnicas industriais de cerâmica. Estudou também no País de Gales, em 1974, reunindo-se a artistas em experiências com reciclagem de materiais. Paralelamente ao seu trabalho artístico desenvolveu atividades acadêmicas na UFRJ. Participou de exposições coletivas e individuais no Brasil e exterior, recebendo premiações em muitas delas.

mariana Canepa
Passagem , performance com argila,  1979

Dentre sua produção artística destaca-se a performance Passagem, que foi realizada em 1979, no apartamento da artista. Sobre sua atuação Celeida fez uma reflexão em forma de poesia:

“Despojei-me
Cobri meu corpo de barro e fui.
Entrei no bojo do escuro, ventre da terra.
O tempo perdeu o sentido de tempo.
Cheguei ao amorfo.
Posso ter sido mineral, animal, vegetal.
Não sei o que fui.
Não sei onde estava. Espaço.
A história não existia mais.
Sons ressoavam. Saíam de mim.
Dor.
Não sei por onde andei.
O escuro, os sons, a dor, se confundiam.
Transmutação.
O espaço encolheu.
Saí. Voltei."

Entre 1980 e 1995 foi coordenadora do projeto Formação de Centros de Cerâmica Utilitária nas comunidades da periferia Urbana, no Morro do Chapéu Mangueira, Rio de Janeiro, RJ. Tudo começou quando artista foi convidada para assistir um ensaio da Mangueira. Ao subir o morro escorregou por causa da chuva forte e caiu. Todos preocupados com ela, correram para acudi-la, ela calmamente exclamou: “Maravilha! Que argila boa tem aqui!”. Empolgada, Celeida fundou o núcleo de cerâmica utilitária do Morro do Chapéu Mangueira. As mulheres da comunidade faziam as panelas de barro para usar lá mesmo. Segundo o professor Luis Áquila depois houve um excesso de produção. “Venderam as panelas na feira do Leme e também em algumas lojas de artesanato. Posteriormente, algumas mulheres começaram a fazer doce, para vender, num local ao lado do atelier de cerâmica. No Morro de Chapéu também foi criado um núcleo de serviços na comunidade que contava com ajuda de outros profissionais. Núcleo criado a partir de um tombo de nossa artista”.
Celeida Tostes foi uma artista que abriu caminhos, ela não se limitava ao especialismo que a cerâmica sugeria. Usou a argila na perspectiva de abrir possibilidades plásticas, sem abrir mão da tradição cerâmica.  A arte, para Celeida, não era uma coisa eventual, e sim quotidiana. A possibilidade do ser humano como ser criador.

NOTAS:

1 - Ver capítulo Referências

2 - A Escola de Artes Visuais do Parque Lage é palco de inúmeras manifestações vinculadas às artes plásticas no Brasil e foi fundada em 1975. Desde sua criação, funcionando como escola aberta, a instituição se mantém como o principal núcleo brasileiro de formação em artes visuais, um fórum de reflexão e debate sobre os principais problemas da arte atual. Freqüentaram seus cursos muitos dos mais importantes nomes da produção artística contemporânea do país, conquistando a escola uma projeção nacional e internacional indiscutível.

3 - Ver capítulo Referências

4 - Professor de escultura e coordenador do curso de Artes Plásticas da Universidade Federal do Espírito Santo 

5 - Professora de cerâmica e Coordenadora do departamento de Artes Visuais da Universidade Federal do Espírito Santo.

 

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