Fique por Dentro

 

Notícias e Eventos

22/07/2016

Os maiores desafios do nosso café

por Luiz Polese*


Principal pilar da economia capixaba ao longo da história, a cafeicultura vive um período de sérios desafios. Alguns desses desafios são estruturais e históricos, e outros são conjunturais. Conjunturalmente, a forte crise hídrica por que passa o Espírito Santo, com uma longa estiagem, levou a uma quebra de safra histórica. 


Alguns analistas previam safras entre 11 e 12 milhões de sacas em condições normais. Os mesmos analistas afirmam hoje que a colheita pode não chegar a seis milhões de sacas. As perdas são imensas e, legando em conta o preço da saca, devem ultrapassar os R$ 2,4 milhões.

Estruturalmente, na outra ponta, podemos afirmar que as dificuldades enfrentadas pelos exportadores na utilização dos portos em Vitória têm provocado uma queda de cerca de 60% na saída do café pela Capital, no período de janeiro a junho em relação ao mesmo período de 2015.
 
Nesse arranjo produtivo, perde o produtor de café e a indústria. Perdem também as empresas comerciais, cerealistas e exportadoras, com a redução e até com o encerramento de suas atividades.
 
A lista de causas está nos motivos acima citados, com uma série de agravantes como a crise econômica e política do País, que tem repercussão direta na redução de linhas de financiamento e no aumento dos custos das que se mantêm ativas.
 
As questões tributárias são outra dificuldade que o setor enfrenta. A incidência de PIS/Cofins de 2003 até 2011 produziu inúmeras distorções no mercado de café, notadamente a partir de 2005, com a majoração das alíquotas para 9,25%.
 
Ao longo desses anos, surgiram centenas de empresas “de fachada” nos estados produtores de café. O setor exportador, representado pelo Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé) e pelo Centro do Comércio de Café de Vitória (CCCV) e apoiados por lideranças políticas capixabas, lutou durante anos e conseguiu que o governo federal mudasse a legislação, acabando com a incidência de PIS/Cofins na cadeira do café cru em 2012, contendo a criminosa ação de sonegação fiscal. Uma vitória importante, mas que não veio sem deixar arranhões no setor.
 
É necessário aprofundar a discussão com o governo federal (Ministério da Fazenda, Procuradoria Geral da Fazenda Nacional, Receita Federal) e bancada federal, envolvendo os governos estaduais, com a finalidade de separar tributariamente o legal do criminoso.
 
A verdade é que empresas cinquentenárias que atuaram na exportação de café e que tanto orgulho trouxeram ao Estado estão hoje com suas atividades paralisadas, reduzidas ou mesmo encerradas. Nosso objetivo é fazer um alerta, provocar, envolver e convocar todo o arranjo econômico da cafeicultura capixaba a um grande debate sobre o futuro.
 
O que não podemos é assistir pacificamente ao enterro de empesas familiares que ajudaram no desenvolvimento do Estado e que apresentaram para o mundo, através da exportação do nosso café, um pouco de nossa história, nossa economia, nossa tradição.
 
O desafio está posto. É preciso enfrentá-lo na tentativa de construir um futuro sustentável para a cafeicultura capixaba. Ganha o Espírito Santo e todos nós.
 

*Luiz Polese é diretor-presidente do Sindicato do Comércio de Café e Armazéns em Geral do Espírito Santo (Sindicafé)